quarta-feira, 3 de junho de 2015

Demolidor - do filme à série



     Em 2003 a internet no Brasil era quase inexistente, assim como os sites de cinema e cultura pop. Só se sabia do lançamento de um filme através do programa Dia-a-dia na Band, no fantástico (se o filme fosse um mega Blockbuster) ou através da revista SET. E foi na capa de uma edição dessa bendita revista que descobri que um de meus super-heróis preferidos ganharia um filme, se tratava do “Demolidor, o homem sem medo” estrelado por Ben Affleck e dirigido por Mark Steven Johnson.
Meu primeiro contato com o filme já foi horrível, começando pelo protagonista. Nada contra o Ben Affleck, eu até gosto do cara em Dogma e hoje em dia torço para que seja um bom Batman, mas eu esperava um Matt Murdock leve e ágil, saltando de prédio em prédio e metendo a porrada utilizando suas técnicas ninja, mas a postura e o uniforme que a revista apresentava era de um cara acima do peso vestindo uma capa de sofá. Outro problema para mim era que o grande cérebro criminoso a ser combatido era o Michael Clark Duncan ( O John Coffey, de “A espera de um milagre) e toda vez que eu olhava para ele eu pensava, “Qual é? Esse cara não é tão mau assim!” e por último, mas não menos importante, tinha o Mercenário, que nos quadrinhos é um vilão foda, que usa qualquer coisa como arma, além de rivalizar na porrada com o Demolidor, mas na interpretação de Collin Farrel aparecia como um esquisitão, todo vestido de couro e com um alvo tatuado na testa, digno de piada.
Apesar do que a revista SET me mostrava, mantive o pensamento positivo até assistir ao filme, o que serviu apenas para que minha decepção fosse maior. As cenas de luta eram ridículas, a trama sem sentido e cheia de clichês, os motivos dos personagens eram rasos e pouco convincentes, ou seja, uma ofensa para qualquer fã. Por isso, quando a Marvel recuperou os direitos do personagem que estavam com a FOX e logo depois anunciou que a NETFLIX faria uma série do herói, me mantive indiferente e joguei minhas expectativas abaixo das solas dos pés. Mal sabia eu que receberia com surpresa melhor série de 2015.


chegou tateando e dominou !


   FODA! Me desculpem, mas não há maneira melhor de definir a série do Demolidor. Para começar a série faz parte do universo MARVEL dos cinemas, em diversos momentos podemos ver as referência do que aconteceu à Nova York devido a batalha dos Vingadores em seu primeiro filme, essa mesma situação é o motivo para a introdução do grande vilão, Wilson Fisk, o Rei do crime, que aproveita a oportunidade para tomar o poder em Hell's Kitchen comandando empreiteiras, empresas de engenharia e, de quebra o submundo das drogas e tráfico de influência, o que remete ao clima e ambiente da produção, que é extremamente sombrio, onde vemos o bairro do protagonista, sendo dominado por essa novo poder paralelo onde os antigos mafiosos e bandidos que dominavam as ruas estão sendo substituídos por um grupo realmente organizado, que consegue passar tensão e a ideia de que não se pode escapar quando se assiste.
Os atores estão fantásticos ! Charlie Cox, que eu só conhecia do terrível “Stardust” tem uma atuação perfeita no papel de Matt Murdock, me convencendo que era cego, que sabia lutar e até mesmo que era ruivo, Helden Henson faz o melhor amigo do protagonista, Foggy Nelson, conseguindo transmitir o carinho e fidelidade que no filme de 2003, John Fravreau, interpretando caricatamente o mesmo personagem não chegou nem perto, a ele pertence a parte cômica e ingênua da série, sem com isso transformar o personagem em bobo ou coitadinho. Vincet d'Onofrio , o eterno Gomer Pyle de “Nascido para matar” é o rei do crime definitivo, embora eu tenha alguns problemas com a origem do personagem (que vamos abordar mais abaixo), ele convence com uma interpretação que alterna da insegurança (que se mostra como dissimulação) e insanidade para razão e propósito, o sujeito é uma bomba relógio prestes a explodir quando o que é sagrado para ele é molestado. Mas no meu entender, o melhor ator da série é Vondie Curtis-Hall que interpreta o reporter Ben Urich, que é responsável pela parte investigativa e que aos poucos é aprofundado expondo seus problemas financeiros, ideologias e se torna um dos heróis da série pelo fato de não se corromper; o ator consegue passar com um olhar ou suspiro todas suas preocupações ou ideias, muito show, tanto que não se ouviu falar mal do personagem devido a sua mudnça de etnia nem mesmo entre os Haters. E o que falar de Débora An Woll como Karen Page? Bom, além de ótima como a personagem ela é linda (ponto).
   O que me conquistou na série é que ela segue o modelo de séries de sucesso, como “Breaking bad” ou “Game of Thrones”, de ser um filme gigante dividido em episódios em que, permeados por diversas subtramas, existe um ou dois problemas centrais a serem resolvidos, tudo isso tratado com o máximo de realismo e seriedade possível ( seriedade, não austeridade), ou seja, não existe essa bobagem de vilão da semana, tal qual The Flash ou Arow, mas sim um medo constante que paira durante toda a temporada. Essa é a receita de se aprofundar e desenvolver todos os personagens desenvolvendo empatia e fazendo com que quem assiste queira mais e mais.
 
Arrebenta Stick
 E Falando em trama, existem episódios que eu vi, revi e trivi, de tão espetaculares que são. O episódio onde raptam uma criança para chamar a atenção do demolidor e ele entra no esconderijo dos bandidos (quando ainda está machucado) é muito legal! Tem uma cena de luta de quase dez minutos em um corredor que remete ao filme Sul-coreano “Old Boy”, ao mesmo tempo que deixa claro que o protagonista é um herói falho e vulnerável, que não tem todas as resposta e soluções, mas que está disposto a ir até as últimas consequências para buscar justiça; nese episódio tem uma cena muito engraçada, quando o demolidor entra em uma sala e fecha a porta, se ouvem gritos, de repente sai um sujeito quebrando a porta e quando se acha que ele vai escapar, uma TV de 29” o acerta na cabeça, cena essa que faz contraponto com o desfecho do episódio em que nosso herói resgata o menino raptado e , cambaleando, o carrega nos braços para o pai (Isso sim é herói!). 
    Outro episódio show é quando aparece o Stick, o sujeito que treinou Matt Murdock. Eu ansiava por essa aparição, principalmente pelo fato de não haver menção a esse personagem no filme de 2003 (o que me deixou indignado), Na série o personagem que é vivido por Scott Glenn já mostra a que veio na primeira cena, onde em uma perseguição a um burocrata Japonês ( e falando japonês) usa suas habilidades para dar cabo do sujeito. Durante esse episódio é que sabemos como Foi o encontro entre Stick e Matt e seu treinamento, onde ele aprendeu, guiado por Stick, a focar os sentidos para não enlouquecer (questão que não existe no filme), também temos um vislumbre de questões externas ao que ocorre em Hell's Kitchen e que deverão ser abordadas nas próximas temporadas, como o clã de Stick e o céu negro (seres em forma de criança que parecem ser armas biológica) e o tentáculo que surge na figura de Nobu, que é um aliado do rei do crime desde o começo da série e que se mostra um ninja, fato que vai gerar uma cena de luta muito boa em outro episódio, mas voltando para o Stick, o personagem é muito carismático, aquele tiozão badass que senta a porrada em todo mundo, é boca suja e só pensa em seus objetivos, quero muito que ele volte na segunda temporada. 
Bad day
   Por último, um episódio que me chamou a atenção, mas me deixou dividido quanto ao personagem é o que mostra a origem de Wilson Fisk. Nele somos apresentados a um Wilson criança, que sofre maltrato do pai e dos vizinhos, ele aparece sempre nervoso e incapaz de reagir na maioria das vezes, chegando a entrar em panico quando o pai vai tirar satisfação de quem fez bulling com ele, isso culmina quando ele mata o próprio pai em uma crise de violência após vê-lo agredindo a mãe, isso eu não consegui digerir, penso que alguém que sofre violência desde pequeno acabe por se quebrar, tornando-se arredio e tendo crises eventuais e violência ( o que acontece na série) mas a estrutura para o personagem chegar onde chegou seria comprometida, seria quase impossível ele se tornar líder de uma organização com o porte da que ele comandava se em sua tenra idade nada que o cercava lhe passasse confiança de que ele seria algo melhor, mas fora isso a atuação de Vicent d'Onofrio e o episódio em si é muito bom.

    Por tudo isso considero “Demolidor” a série da NETFLIX a melhor coisa lançada em 2015 (até agora), ficamos no aguardo da segunda temporada quando a questão do céu negro será revelada e teremos a introdução ao mundo dos clãs de ninja e sua guerra. Espero também que as demais séries baseadas nos personagens da MARVEL que a NETFLIX irá produzir sigam com a qualidade apresentada em Demolidor, contando com muita ação , violência e realismo. Nota 10.


Até a próxima temporada



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